Para compreender a
importância do lugar que Mallarmé ocupa na obra dos
concretistas, cabe
lembrar que, na primeira metade do século XX, a poesia de Mallarmé
e
suas traduções
circularam de modo bastante restrito no Brasil.
Araripe Júnior, em
1888, ao se referir ao “verdadeiro grupo dos simbolistas”,
declara
que Stéphane Mallarmé
é sua “encarnação perfeita” ( GUIMARÃES, 2010, p. 28). É
também
numa revista
simbolista, Vera Cruz, que, em 1898, Silva Marques publica o primeiro
artigo
mais extenso dedicado
ao poeta francês, no qual aponta para a “influência benéfica de
seu
ensinamento”
(GUIMARÃES, 2010, p. 29). Nesse contexto, surgem as primeiras
traduções de
Mallarmé no Brasil.
José Paulo Paes, em seu histórico da tradução literária no
Brasil, assinala
que: “quanto ao
paulista Batista Cepelos, parece ter sido o primeiro a traduzir, no
Brasil, a
poesia de Mallarmé”,
(PAES, 1990, p. 24). sem precisar que poema seria, nem o contexto de
sua publicação.
Guimarães, em seu preciso estudo sobre o poeta francês, debruça-se
sobre o
assunto, descobrindo no
livro de poemas Vaidades, entre os poemas do próprio Cepelos e
outras traduções, a
tradução do poema “O azul”, cuja data não se pode precisar,
pois “o livro
foi publicado em 1908,
mas traz a indicação de que inclui poemas de 1899-1908”
(GUIMARÃES, 2010, p.
17).
A primeira tradução
publicada no Brasil não parecer ser, pois, a de Cepelos e sim a do
poema “Tristesse
d’été”, “feita por Escragnolle Dória e publicada com o
título ‘Tristeza
Estival’ na revista
carioca Rua do Ouvidor, de 11 de maio de 1901”, (GUIMARÃES, 2010,
p.
17) cerca de três anos
após a morte de Mallarmé.
Uma terceira tradução
completa as traduções do “ciclo simbolista” mencionadas por
Guimarães. Trata-se do
poema “Apparition”, traduzido por Alphonsus de Guimaraens,
incluído na edição
de 1938, do livro póstumo do autor, Pastoral aos crentes do amor e
da
morte.
O fato de haver apenas
três traduções e poucas referências a Mallarmé no período
indica claramente que
“parte do simbolismo brasileiro se desenvolveu independentemente do
conhecimento da obra de
Mallarmé” (GUIMARÃES, 2010, p. 15). Outro fato importante que
se depreende é a
escolha dos textos: são poemas do jovem Mallarmé, anteriores a seus
textos
mais herméticos. O
poema “Appariton” data de 1863, sendo um dos mais divulgados,
publicado inclusive no
volume Poètes Maudits, de Verlaine. Os outros dois datam de 1864 e
foram publicados na
coletânea Le Parnasse Contemporain, em 1866. Enfim, como aponta
Antonio Candido ao se
referir a sua época de juventude: “o Mallarmé apreciado era o
menos
hermético. Pouca gente
enfrentava o ‘Coup de dés’, que, aliás, era de difícil acesso”
(MELLO
E SOUZA, 1993, p. 118).
Essa situação
prossegue mais ou menos inalterada ao longo das décadas seguintes. A
única inclusão de
Mallarmé numa antologia de poesia é, em 1936, na antologia Poetas
de
França, de Guilherme
de Almeida, na qual se encontra, além de “Brise marine”, o mesmo
poema “Apparition”
já traduzido por Alphonsus de Guimarães.
http://www.partes.com.br/cultura/movimentoconcreto.asp
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